O Divino

Há um princípio divino real e incompreensível, mas perceptível a muitos povos e culturas. Alguns vêem como apenas um único agente criador (um único Deus, monoteísmo), outros vêem como vários agentes que compõe o Universo (politeísmo). Tanto o monoteísmo quanto o politeísmo nos apontam para o mesmo princípio criador. Tenhamos isto em mente em primeiro lugar.
Desde o início dos tempos, a humanidade manteve um forte sentimento com a Natureza, os ciclos, a fertilidade, e também com a alma, os acontecimentos. Durante os Tempos Áureos este vínculo era ainda mais forte, éramos mais ligados às divindades. Por divindades entendemos que são personificações de forças divinas que atuam na natureza e em nossa vida. Muitos ainda entendem por divindade como sendo seres divinos e conscientes, atuantes dentro de um mistério, neste caso o milenar mistério helenista. Podemos dizer que no paganismo helênico, tanto o antigo quanto o mais moderno, não segue um único modelo unificado do divino, pois há várias formas teológicas diferentes, várias compreensões, que embora diferentes umas das outras, possuem uma lógica semelhante. É o que discutiremos ao decorrer desse artigo.

Na antiga religião pagã grega e também noutras religiões, atribui-se a criação do Universo e da vida terrestre a partir da união de dois princípios (dualismo), muitas vezes o Céu (Urano, espírito, princípio masculino) com a Terra (Gaia, matéria, princípio feminino). Essa dualidade está presente fluindo em todo o Universo e também dentro de nós. Alguns aspectos gregos de dualismo são Réia e Cronos, Afrodite e Ares, e Ártemis e Apolo.
Réia representa a mãe, que nutre, e Cronos representa o pai, que instrui. Afrodite e Ares possuem um sentido sexual e atrativo, a união do homem com a mulher. Ártemis representa a Lua, a Alma, enquanto Apolo representa o Sol, o Logos.
Este conceito de Alma e Logos está presente em muitas escolas filosóficas da antiga Grécia. O Logos é a razão, a meditação, enquanto a Alma é o sentimento, a contemplação.

Não se pode aplicar a todo o Universo o princípio de "Bem" e "Mal". O Bem é a união, a harmonia cósmica, o Mal é a separação, a desarmonia cósmica.
No dodecateísmo podemos dividir as divindades em, basicamente, duas grandes categorias: divindades primordiais, e divindades arquetipadas (lembrando-se que nenhuma delas é do Bem ou do Mal).

Os "Três Reinos", apresentado na religião grega refere-se aos três planos da criação. O Reino de Zeus é o plano da vontade, o Reino de Poseidon é o plano astral e intuitivo, o Reino de Hades é o plano espiritual e racional. Respectivamente referem-se às três qualidades presentes na criação: cardinal, mutável e fixo. Eis a Trindade Divina helênica.

Há uma idéia de Setenário entre os antigos gregos e romanos, além de diversos outros povos, na qual há sete Deuses principais que regem o universo, como vibrações divinas. A partir dessas sete vibrações todas as outras divindades firmam seu poder e todas as coisas são originadas. Os antigos apontavam essas vibrações pertencendo à certos astros do sistema solar. Podemos perceber isto no próprio sistema de sete dias da semana, no qual cada dia pertence a um deus, no qual usamos até hoje, isto é uma herança de nossos ancestrais. Essas sete vibrações que regem todas as coisas (Deuses) são:  Apolo (o impulso), Hermes (a expansão), Afrodite (a união), Ártemis (a criação), Ares (a ordem), Zeus (o equilíbrio) e Cronos (a transmutação).

Também há presente no dodecateísmo o simbólico número 12. É o número simbólico dos ciclos e da plenitude (4 elementos x 3 planos da criação). É o número dos titãs e olimpianos. São as doze emanações que vêm do divino até nós. É também o número de signos do zodíaco. Os gregos foram grandes precursores da astrologia ocidental que temos hoje. Cada divindade olímpica pode ser associada a um signo do zodíaco. Hermes, por exemplo, é associado ao signo Gemini, pois as características desse Deus são semelhantes às das pessoas que são desse signo (loquacidade, conhecimento, etc), e, tais pessoas têm fortes ligações com esta vibração divina, que é o Deus Hermes. Com o tempo os gregos nomearam 14 Deuses como olímpicos (burlando o esquema).

As divindades são sustentadas pelo que elas abrangem e pela egrégora de devotos. Cada divindade tem sua particularidade, seu simbolismo, possui as suas cores, suas oferendas, seu abrangimento, e até seu animal, porém é basicamente simbólico e tradicional. As imagens de divindades ("ídolos") não são feitas para adorar a imagem, e sim para que visualizemos a divindade, e nela meditemos. Cada divindade possui sua própria imagem, com seus atributos e símbolos, para identificar o que ela abrange e representa. Têmis, Deusa da justiça, por exemplo, possui como atributo uma pequena balança, representando a igualdade, uma venda nos olhos, representando que a justiça é cega, e uma espada, representando a punição.
Os mitos servem de exemplos para nossa vida, ou de metáforas para acontecimentos e fenômenos naturais. Alguns mitos possuem um fundo real, pois há divindades que, antes de serem cultuadas, são relaccionadas à pessoas que fizeram grandes feitos no passado, e então foram divinizadas. Zeus pode ter sido o primeiro grego a estabelecer um sistema de leis. Hefesto o primeiro grego a trabalhar com forja. Ares um hábil guerreiro grego. E então foram cultuados após a morte, e com o tempo suas devoções se tornaram algo mais divino e transcendente, e até simbólico.

Lembremos que os Deuses são manifestações do princípio criador (Céu e Terra aos dualistas;  Uno, Alma e Razão aos neoplatonistas; etc). Deuses são arquétipos, avatares criados por nós, baseados em forças divinas, como fenómenos naturais ou aspectos da mente humana. São arquétipos baseados em determinadas vibrações emanadas do princípio criador. Depositando fé nesses arquétipos, criamos um fluxo divino com eles, e com nossos ancestrais que os cultuavam, criando uma egrégora, então essas forças tornam-se poderosas, avivadas através de nossa fé.

Divindades primordiais

São personificações de elementos e fenômenos da Natureza terrestre e do Universo, como a Lua, o Sol, as montanhas, a chuva, a fertilidade, as árvores, os ventos, cultuados nos primórdios da civilização. São elementos que nos auxiliam em nossa vida terrestre, e portanto são respeitados e associados a Deuses ou ninfas (espíritos anímicos).
Nas divindades primordiais da Terra, podemos associar todas elas à uma só Deusa, Gaia. Gaia representa todas as divindades que representam o que há na Natureza, que são seus filhos. Gaia é mãe das montanhas, dos rios, dos bosques, dos ventos, etc. A montanha também possui supostos filhos, que são as árvores, as rochas, o orvalho, a neve, etc. Entendes? Cada divindade se encaixa a outras, o que há por fora é como o que há por dentro. Divindades que representam o espírito, a encarnação, também podem ser consideradas primordiais.
Ao orar à uma divindade primordial, estamos agradecendo ou pedindo auxílio à própria Natureza, à uma parte da Natureza. Quando agradecemos à Cíbele, pelo crescimento de nossa plantação, estamos agradecendo à própria terra fértil, sob uma forma divina. A terra não é algo morto, e sim um elemento divino, que participa de nossa vida e está sempre em transformação, seguindo a harmonia do Universo.

Divindades arquetípicas

São personificações de virtudes, arquétipos de conjuntos de valores e virtudes, representam aspectos da vida e da mente humana. Por exemplo, Mercúrio representa um indivíduo loquaz, conhecedor, esperto, bem instruido, que sabe persuadir, por isso é considerado padroeiro dos profissionais acadêmicos e comerciantes. Juno representa uma esposa fiel e fixa nos valores familiares, considerada padroeira do matrimônio (que era importante na antiguidade).
No período neolítico o trabalho e os valores sociais tiveram uma considerável importância, ou seja, já não bastava considerar somente os Deuses primordiais, necessitava de novos Deuses que representassem esses novos valores sociais e laborais.
Ao adorar, ou orar, a uma divindade arquetípica, estamos depositando fé naquele ideal, naquele arquétipo, naquele estilo de vida e o que nele abrange. Se alguém é devoto à Vênus, provavelmente este quer seguir o ideal da Deusa, este é vaidoso e romântico, ou quer ser vaidoso e romântico, ou mesmo quer seguir carreira na moda, no sexo, sei lá. Não faz sentido, por exemplo, um homem machista se devotar ou pedir auxílio à Diana, afinal esta Deusa representa o oposto do que este homem pensa e age (Aliás, machistas não são dignos de nada!)
Deuses arquetípicos também podem simbolizar fragmentos de divindades primordiais. Diana, por exemplo, representa também a Lua Crescente, Proserpina representa o ciclo terrestre, Júpiter representa também o próprio trovão. A idéia é a mesma, mas as concepções desses Deuses mudam a cada época e lugar, e continuarão a mudar, pois os valores sociais estão sempre em modificação (Hegel que o diga). Um exemplo é como Hermes foi retratado em "Percy Jackson".
Podemos perceber que, nas eras mais recentes da antiguidade grega, passaram-se a cultuar somente Deuses Olímpicos, enquanto os Titãs foram tratados como malignos e caóticos. Isso representa a passagem da atenção do homem pela Natureza (Titãs e divindades primordiais) para a atenção do homem pelo trabalho, ordem e sociedade (Olimpianos e divindades arquetípicas). Porém, os Titãs não são superiores e e nem inferiores aos Olimpianos, ambas as raças de Deuses são iguais e ambas trabalham para o sustento e harmonia cósmica. Não é que os mitos estão errados, mas foram feitos sob os conceitos daquela época, portanto não podemos julgar e nem aceitar tudo cegamente.

O dodecateísmo não possui todo um sistema teológico, sendo que podemos crer ou descrer em qualquer pensamento teológico. É até complicado tentar trazer uma religião antiga para uma época com valores bem diferentes. O básico é considerar os Deuses, mitos e simbolismos gregos, não fazendo diferença em aceitar o emanacionismo, o neoplatonismo, o henoteísmo ou mesmo os ideais de Jesus, porém todos defendem basicamente essas três teorias:

Politeísmo

Politeísmo é a crença em várias divindades individuais, contendo, cada uma, diferentes domínios e iconografias. Anteriormente foi dado vários exemplos de politeísmo. Um exemplo é o Deus Júpiter, que tem domínio sobre o trovão e a ordem, sua cor é o púrpura (ou vermelho), sua arma é o raio, seu animal é a águia. Cada divindade possui suas características individuais, esta crença é primordial ao dodecateismo e a todo paganismo. Cada elemento, físico e não-físico, possui suas particularidades divinas, mesmo vindo todos do mesmo princípio criador.

Panteísmo

Panteísmo é a crença no qual todas as coisas do universo fazem parte do corpo das divindades. Um exemplo disso é a nossa própria Mãe Divina, Gaia, cujo corpo é identificado com a própria terra que pisamos, nos nutrimos, e nos confortamos. As divindades são identificadas com elementos e fenômenos da Natureza e do Universo.
O panteísmo não se limita apenas à coisas materiais. As Moiras, por exemplo, são três Deusas que personificam o Destino, elas são o próprio "Destino". As Moiras tecem um fio, simbolizando o nascimento, e no fim elas cortam, simbolizando morte. Outra evidência iconográfica é sua tríade, a trindade costuma simbolizar o Destino e a Plenitude em muitas religiões.

Animismo

Animismo é bastante relacionado ao panteísmo. O animismo é a crença em que todas as coisas na Natureza têm uma "alma" (anima) ou "energia divina". É muito relaccionado também ao xamanismo. Podemos tomar como exemplo as ninfas, que são espíritos da Natureza, vivas em pedras, rios, árvores, e até em bosques.
Diferente de nossos espíritos que reencarnam até chegar à um estado superior, os espíritos da Natureza são como energias divinas, que nos auxiliam em nossas vidas. Ao destruirmos uma área natural, a "anima" que flui na região morre.
Essas "animas" que fazem os elementos naturais serem benéficos para nós, e auxiliam a manter a Natureza. Elas são também o poder dos Deuses manifestados em nosso mundo. O "anima" pode fluir fisicamente, em campos, rochas, águas, e também não-fisicamente, nas emoções, na razão, na magia, etc.

19 comentários:

  1. Excelente texto,rico em informações que é difícil achar em português, sou muito grato por postar.

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  2. Só uma pergunta,você poderia me esclarecer como fasso para me tornar um praticante do Dodecateismo?

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    1. Basta crer nos Deuses gregos ou romanos e passar a considerá-los. Pode-se fazer até um altar/oratório com as divindades ou espírtos com que trabalha. E tb manter uma um bom senso de ética. Não tem iniciação alguma (a não ser para ordens discretas). E, é claro, tem que tomar cuidado com o anacronismo, tipo, hoje em dia não faz sentido sacrificar animais e muito menos normalizar o estupro, rs.

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  3. Anônimo20/11/17

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  4. Anônimo20/11/17

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  5. Anônimo1/1/18

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  6. Anônimo1/1/18

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  7. Anônimo1/1/18

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  8. Anônimo1/1/18

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  9. Anônimo1/1/18

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  10. Anônimo1/1/18

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  11. Anônimo6/1/18

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  12. Anônimo3/2/18

    Caos (em grego: Χάος, transl.: Cháos), na mitologia grega segundo Hesíodo, o primeiro deus primordial a surgir no universo, portanto a mais velha das formas de consciência divina. A natureza divina de Caos é de difícil entendimento, devido às mudanças que a ideia de "caos" sofreu com o passar das épocas.

    Seu nome deriva do verbo grego chaíno (χαίνω), que significa "separar", "ser amplo", significando o espaço vazio primordial. Também poderia ser chamado de Aer (Αηρ), que significa "ar" ou de Anapnoe (Αναπνοη), que significa "respirar".

    O poeta romano Ovídio foi o primeiro a atribuir a noção de desordem e confusão à divindade Caos. Todavia, Caos seria para os gregos o contrário de Eros. Tanto Caos como os seus irmãos são forças geradoras do universo. Caos parece ser uma força catabólica, que gera por meio da cisão, assim como os organismos mais primitivos estudados pela biologia, enquanto Eros é uma força de junção e união. Caos significa algo como "corte", "rachadura", "cisão" ou ainda "separação". Os filhos de Caos nasceram de cisões assim como se reproduzem os seres unicelulares (mitose). Nix (Noite) e Érebo (Escuridão) nasceram a partir de "pedaços" do Caos. E do mesmo modo, os filhos de Nix nasceram de "pedaços" seus; como afirma Hesíodo: sem a união sexual. Portanto a família de Caos se origina de forma assexuada.

    Se Caos gera através da separação e distinção dos elementos, e Eros através da união ou fusão destes, parece mais lógico que a ideia de confusão e de indistinção elemental pertença a Eros. Eros age de tal modo sobre os elementos do Mundo, que poderia fundi-los numa confusão inexorável. Assim, seu irmão Anteros, que nasceria do mesmo modo que Gaia,Tártaro, e Eros sendo assim irmão do Caos, equilibra sua força unificadora através da repulsa do elementos.

    Caos é, então, uma força antiga e obscura que manifesta a vida por meio da cisão dos elementos. Caos parece ser um deus andrógino, trazendo em si tanto o masculino como o feminino. Esta é uma característica comum a todos os deuses primogênitos de várias mitologias.

    É frequente, devido à divulgação das ideias de Ovídio, considerar Caos como uma força sem forma ou aparência. Isso não é de todo uma inverdade. Na pré-história grega, tanto Caos como Eros eram representados como forças sem forma. Eros era representado por uma pedra.

    Ou seja, na mitologia grega, Caos é "pai-mãe" de Nix e Érebo, e "irmão-irmã" de Gaia, Tártaro e Eros. https://pt.wikipedia.org/wiki/Caos_(mitologia)

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    1. Eu não acho
      Que a religião grega é mitológia
      Pois ela ainda existe mas
      Tenho que concordar
      Caos pra mim parece ser uma entidade mistériosa
      E acho que ele não tem forma fisica e também acho ele ser mistétioso
      Por ser as primeira das divindades do Dodecateísmo

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    2. Desculpa mas não
      Se deve referir
      A religião grega
      Como Mitológia
      Por que ela ainda existe mesmo que ela retornou a pouco tempo
      Ela ainda existe
      Então se deve se referir a ela como Dodecateísmo
      Ou Helenismo
      Como o imperador Juliano
      Se referiu a essa religião

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  13. Desculpa
    Mas não concordo
    Que Deuses
    São forças criadas por nós isso é tolice Deuses existiram bem antes de nós

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